domingo, 14 de novembro de 2010
Deitado eternamente em berço esplêndido
Meu coração está aos pulos.
Quantas vezes minha esperança
será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar:
malas, cuecas que voam
entupidas de dinheiro,
do meu dinheiro, do nosso dinheiro,
que reservamos duramente para educar
os meninos mais pobres que nós, pra cuidar
gratuitamente da saúde deles
e dos seus pais.
Esse dinheiro viaja
na bagagem da impunidade
e eu não posso mais.
Quantas vezes meu amigo, meu rapaz,
minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança
vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis
existem pra aperfeiçoar o aprendiz.
Mas não é certo que a mentira
dos maus brasileiros
venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro,
a luz é simples,
regada ao conselho simples
de meu pai, minha mãe, minha avó
e os justos que os precederam:
”Não roubarás,
devolva o lápis do coleguinha,
esse apontador não é seu, minha filha”.
Ao invés disso,
tanta coisa nojenta e torpe
tenho tido que escutar.
Até habbeas corpus preventivo
Coisa da qual nunca tinha ouvido falar
E sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste
Esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo,
com a velha e fiel fé do meu povo sofrido,
então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda eu vou ficar.
Só de sacanagem.
Dirão: deixa de ser boba. Desde Cabral
que aqui todo mundo rouba.
Eu vou dizer: não importa.
Será esse o meu carnaval.
Vou confiar mais e outra vez.
Eu, meu irmão, meu filho
e meus amigos vamos pagar limpo
a quem a gente deve
e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue
ser livre, ético e o escambau.
Dirão: é inútil, todo mundo aqui é corrupto,
desde o primeiro homem
que veio de Portugal.
E eu direi: não admito.
Minha esperança é imortal.
E eu repito: ouviram? Imortal.
Sei que não dá pra mudar o começo.
Mas, se a gente quiser,
vai dar pra mudar o final.
Só de sacanagem
da atriz e também cantora Elisa Lucinda.
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Na Moita aqui
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