terça-feira, 30 de junho de 2009

Kόσμος


Não sabia que te queria,
mas quando sorrias,
via as estrelas se deitando comigo.
Não sabia que te gostava,
mas quando passavas,
partiam contigo minhas loucuras inconfessas
emaranhadas nos teus cabelos.
Não sabia que não te esquecia,
mas quando te recordava,
refazia cada um dos passos rumo a mim mesma.
Não sabia que te desejava,
mas quando falavas,
tua voz lavava o pó do meu caminho.
Não sabia que sofria,
mas quando não te via,
me distraía queimando um a um
todos os meus brinquedos.
Não sabia que te amava,
mas enquanto desesperada te buscava,
me perdia entre os dedos da mão que segura
o tempo que passou por nós.


Escrito por Ticcia às 09:22 de 11.05.2004

domingo, 21 de junho de 2009


Uma noite em que minha vida é feita de vento,
constante e frio como os que habitam despenhadeiros.
Uma noite de breus e sombras
e de velas que queimam em bicos góticos,
uma noite em que o medo entra manso
e se posta aos meus pés como um tapete macio
e a solidão desce cortante como um gole de água ardente.
Em algum lugar há mães embalando seus filhos.
Acaricio a gata que ronrona deitada em meu peito
e duas lágrimas grossas deslizam resignadas.
A cama me espera com seus grandes braços brancos vazios.
Tomo mais um gole de vinho que me beija e me deseja bons sonhos.

Escrito por Ticcia às 01:43 de 26.10.2003

sábado, 13 de junho de 2009

terça-feira, 9 de junho de 2009

Essências



Tenho-te em tuas umidades,
no calor do teu abraço
e nas gotas de suor
que se espalham pelo teu corpo.
Tenho-te em tua pele lisa,
teus cabelos colados,
teus pêlos grudados, teu visgo,
tuas águas, teus caminhos de charcos,
os pequenos rios no teu pescoço,
o sabor salgado do lóbulo da tua orelha,
tua testa brilhante, tuas narinas abertas,
tuas pupilas dilatadas.
Tenho-te em alta temperatura misturado a mim,
confundido em líquidos e sumos,
sede e fonte, mar em onda, céu de chuva.
Tenho-te emaranhado e deslizante,
em vapor e respingos, em poros abertos,
em cheiro de bicho, em cio de gente.
Tenho-te na língua que colhe o gosto,
nos lábios que escorregam,
na boca que dança lúbrica por frestas molhadas
e se embriaga de essências profundas,
de perfumes e cansaços.
Tenho-me docemente embebida por ti.

Escrito por Ticcia às 10:56 de 24.11.2008

quinta-feira, 4 de junho de 2009