sábado, 30 de maio de 2009

quarta-feira, 27 de maio de 2009

domingo, 24 de maio de 2009

Red Roses For A Blue Lady


Não entendo o que há nos teus olhos
que molha minhas mãos
e me faz querer me evadir,
e te abraçar, sumir e te beijar,
me esconder e te pedir para ficar.
Não sei mais onde poderíamos nos achar,
depois de termos tentado tanto nos perder,
onde poderíamos encontrar aqueles dois de nós
que tratamos de admirar e esquecer.
Temo os teus olhos porque
temo as obviedades das minhas contradições,
as traições de mim mesma
e as mentiras costuradas cuidadosamente
de bom senso e ponderação.
Temo os teus olhos porque temo ver
o que queria tanto e temo que tudo o que eu queria
já dos teus olhos tenha desertado.
Temo os teus olhos tanto quanto amo teu olhar
e continuo sem saber se me escondo
ou se te peço para ficar.
De uma forma ou de outra,
é sempre domingo.


Escrito por Ticcia às 12:26 de 28.04.2004

quarta-feira, 20 de maio de 2009

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Goretidias


Conflito

Tingi de roxo o espelho do meu vazio,
O reflexo de ausências desmedidamente dolorosas
E batalhei num conflito de querer e dever.
Entreguei-me ao vento que me esmagou
Num tempo de barcos naufragando,
Contra as rochas de uma praia deserta,
Perigosamente lógica…
E no espaço das minhas velas de nau à deriva,
Se ousaram instalar relógios de cuco,
Presos por fios de consciência
Perfidamente papagueada…

E das moléculas que de mim brotaram
em cascata um dia Nada sei,
Para além da linha de brilho
Cada vez mais longe…

Goretidias

domingo, 10 de maio de 2009

Mãe


Deito entre uma palavra e outra
e deixo que os sons me cubram,
me fecundem, me emprenhem.
Quero o verbo a habitar meu ventre,
a crescer em minhas entranhas
para rebentar novo do de dentro,
cheio de meu sangue, da minha placenta.
Quero me perpetuar em linhas,
me estampar em versos,
me traduzir em signos
porque cada vez que me criptografo,
me decodifico;
cada vez que me verto em metáforas,
mais nítida a minha imagem no espelho.
Sou uma larva que se descobre crisálida
para saber da vida rastejante que a povoa
e das suas promessas de asas.

Escrito por Ticcia às 12:11 de 21.04.2004

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Devora-me


Devora-me os olhos,
grandes bocas negras escancaradas
de cílios e ânsia.
Devora-me a pele,
deserto de areia e alíseos em teu percurso.
Devora-me os seios,
o molde e fruto perfeito em tuas mãos.
Devora-me as pernas,
algas serpentes armadilhas do teu barco.
Devora-me a boca,
esconderijo secreto das nossas blasfêmias.
Devora-me as mãos,
pequenos moluscos sugados por tua língua.
Devora-me os cabelos,
rédeas e arreios da tua fúria.
Devora-me o ventre.

Escrito por Ticcia às 03:49 de 03.01.2006

terça-feira, 5 de maio de 2009

A Santa dieta


Seis mexericas e uma lua cheia
maduras no infinito do espaço
Prenunciam vida na natureza.
À espera da alegoria
De uma nova promessa.
Semana que vem
eu começo

domingo, 3 de maio de 2009

Despertar


Foi quando tu chegaste que descobri
meu solo e minha pátria,
que deixei o exílio
e dei um nome à terra de que sou feita.
Porque tu tens uns olhos que
se perderam no mar
e voltaram depois das tempestades
com a dor de quem mais uma vez pôde ser salvo.
Porque teus braços me resgataram,
neles desfiz minhas fronteiras
e me tornei contigo um mesmo horizonte
que junta infinitos de céu e água.
Porque tua voz me conta coisas outras
enquanto falas e tu sabes o que eu ouço
e não temes que eu saiba
sobre todos os teus medos.
Porque tu dizes meu nome de olhos fechados,
afundado em minha carne
e a noite toda lateja dentro de mim
e o ruído do mundo cessa para que
eu possa me lembrar só da tua voz dizendo
o meu nome longe de todas as coisas.
Porque tuas mãos falam a língua da minha pele
e enfeitam meus cabelos de pequenas
conchas e musgos para que eu encontre
os sentidos que eu supunha
naufragados para sempre.
Porque eu já não poderia me entregar
a mais ninguém sem voltar a ser estrangeira
em mim mesma, sem ser de novo uma
estranha atrás de meus próprios olhos,
sem desertar para sempre do meu corpo.


Escrito por Ticcia às 09:36 de 22.10.2008

sábado, 2 de maio de 2009

Pudesse eu


Pudesse eu, vez por outra,
me cercaria de ti.
Teria-te ao redor da cintura,
sobre os ombros, entre os dedos,
quem sabe à volta,
represa sólida para águas furiosas.
Pudesse eu, vez por outra,
tu serias recipiente,
compartimento, fronteiras e,
a um só tempo,
o referencial das distâncias.
Teria eu teus braços em remanso
na proximidade azul das manhãs,
tuas pernas de limite na vazante vertente
das noites e não temeria o curso caudaloso
dos rios sobre o peito.
Pudesse eu, vez por outra,
te cercaria de mim.

Escrito por Ticcia
às 11:16 de 06.04.2005