domingo, 3 de maio de 2009

Despertar


Foi quando tu chegaste que descobri
meu solo e minha pátria,
que deixei o exílio
e dei um nome à terra de que sou feita.
Porque tu tens uns olhos que
se perderam no mar
e voltaram depois das tempestades
com a dor de quem mais uma vez pôde ser salvo.
Porque teus braços me resgataram,
neles desfiz minhas fronteiras
e me tornei contigo um mesmo horizonte
que junta infinitos de céu e água.
Porque tua voz me conta coisas outras
enquanto falas e tu sabes o que eu ouço
e não temes que eu saiba
sobre todos os teus medos.
Porque tu dizes meu nome de olhos fechados,
afundado em minha carne
e a noite toda lateja dentro de mim
e o ruído do mundo cessa para que
eu possa me lembrar só da tua voz dizendo
o meu nome longe de todas as coisas.
Porque tuas mãos falam a língua da minha pele
e enfeitam meus cabelos de pequenas
conchas e musgos para que eu encontre
os sentidos que eu supunha
naufragados para sempre.
Porque eu já não poderia me entregar
a mais ninguém sem voltar a ser estrangeira
em mim mesma, sem ser de novo uma
estranha atrás de meus próprios olhos,
sem desertar para sempre do meu corpo.


Escrito por Ticcia às 09:36 de 22.10.2008

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