quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Crepúsculo

















É estranho que o mundo silencie, breve e triste,
e que em minha boca fechada
as palavras batam asas,
angústia de dizer, e o corpo se agite, animal faminto.
Tu permaneces, acima das horas e sobre os dias,
como se horas e dias não houvessem,
como se o tempo fosse um besouro
enredado em meus cabelos
e teus dedos fossem sua improvável salvação.
Não me comove a chuva, ou a beleza do silêncio.
Sou toda um esgar contido,
um pequeno frêmito de superfície onde nas profundezas desmoronam
cada um dos meus degraus.
Esqueço teus olhos. Esqueço tua pele.
Esqueço o cheiro que só existe em certas partes do teu corpo.
Esqueço de mim, um tanto.
Morro, um tanto.
Então escrevo para contar àquela de mim do que me compus.
E escrevo de novo para lembrar a ti do que me fizeste.


Escrito por Ticcia às 11:31 de 25.03.2008

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