terça-feira, 8 de setembro de 2009

Martinha BH


Apaixone-se por mim.
Não um amor de mesa posta, talheres de prata,
toalha de renda, não um amor de terça-feira,
água morna, gaveta arrumada.
Apaixone-se por mim no meio de uma tarde de chuva,
rua alagada, rosas na mão, um amor faminto, urgente,
latejante, um amor de carne, sangue e vazantes,
um amor inadiável de perder o rumo o prumo e o norte,
me ame um amor de morte.
Não me dê um amor adestrado que senta, deita,
rola e finge de morto, que late, lambe e dorme.
Apaixone-se felino, sorrateiramente e assim que eu me distrair,
me crave os dentes, as unhas, role comigo e perca-se em mim
e seja tão grande a ponto de me deixar perder.
Ame minhas curvas, minha vulva, minha carne,
me fecunde e se espalhe por meus versos,
meus reversos, meus entalhes.
Faça eu me sentir amada, desejada
glorificada em corpo e espírito que eu nunca soube o que é ser de alguém,
mas preciso que me ensines,
que me fales,
que me cales,
amém.

Escrito por Ticcia às 12:10 de 31.03.2004

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