sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Apex Hércules


Tudo em ti me sugere desmesura
por que em ti meus olhos ganham fundura
e contêm sistemas solares.
Em ti,
meus átomos emulam galáxias instáveis
e orbitam ao redor do teu umbigo,
centro do universo.
Olha pra mim e me banha nessa luz
que contém todas as gamas,
alfas e betas do azul radiante,
do verde profundo,
lilases aquáticos, fulguras de bronze.
Me suga pra dentro do mundo de lógica inversa
que existe no teu avesso
e me deixa navegar até os lugares
imprecisamente indicados pelo mapa da palma da tua mão.

Escrito por Ticcia às 04:06 de 29.08.2003

sexta-feira, 18 de setembro de 2009


A dor dói num espasmo
que se repete cada vez mais forte
e eu te acaricio de longe
como as sombras se espalham maiores,
conforme a tarde avança.
Te estendo minhas palavras,
meus versos,
te canto para no pó que hei de ser ainda ressoar
um tanto aos teus ouvidos cada dia mais surdos,
à tua pele cada vez mais ausente,
aos teus olhos cada instante menos meus.
Minha teia é frágil e não pretende captura.
Quero só que ela siga enroscada aos teus cabelos,
aderida às tuas roupas,
colada aos teus sapatos.
Sou um arremedo do que fomos
a desejar secretamente que minha mão sobre meu peito seja a tua,
que se abram teus olhos com meu sonho.

Escrito por Ticcia às 05:19 de 11.10.2004

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Nefertiti


Me dá tua boca, tua saliva, tua língua esquiva,
teu espesso suco, teu sumo ávido,
teu líquido ácido, teu suor salgado,
teus fluidos mornos, tuas deliqüescências.
Me dá teus transbordamentos, tua profusão,
tua incontinência, tua vastidão, teus secretos rios,
teus lençóis subterrâneos, tuas fontes repletas,
teus córregos escorregadios.
Me dá teu pântano, teu poço,
teu mar, teus charcos, tuas aguadas,
tuas vazantes, tuas chuvas, tuas torrentes,
teus mananciais. Tenho sede de desaguar.

Escrito por Ticcia às 09:42 de 22.11.2004 7

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Martinha BH


Apaixone-se por mim.
Não um amor de mesa posta, talheres de prata,
toalha de renda, não um amor de terça-feira,
água morna, gaveta arrumada.
Apaixone-se por mim no meio de uma tarde de chuva,
rua alagada, rosas na mão, um amor faminto, urgente,
latejante, um amor de carne, sangue e vazantes,
um amor inadiável de perder o rumo o prumo e o norte,
me ame um amor de morte.
Não me dê um amor adestrado que senta, deita,
rola e finge de morto, que late, lambe e dorme.
Apaixone-se felino, sorrateiramente e assim que eu me distrair,
me crave os dentes, as unhas, role comigo e perca-se em mim
e seja tão grande a ponto de me deixar perder.
Ame minhas curvas, minha vulva, minha carne,
me fecunde e se espalhe por meus versos,
meus reversos, meus entalhes.
Faça eu me sentir amada, desejada
glorificada em corpo e espírito que eu nunca soube o que é ser de alguém,
mas preciso que me ensines,
que me fales,
que me cales,
amém.

Escrito por Ticcia às 12:10 de 31.03.2004

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Encontros e despedidas


E agora
já é ontem,
o ainda agora
cinza rapsódia
fundo soturno das
imagens encantadas.

Roubar do infinito
as palavras ditas
pretensão do sim.

Meus desejos,
ilusões deste mundo
que reza a solidão.

As letras das canções
que se separam e se
juntam,
numa insuportável,
interminável serenata
em despedida

Pode você enxergar
tudo que se foi
e ouvir?

Lembre-se daquele telhado
no subúrbio, atravessado
pelo trem da memória.


Jacob Pinheiro Goldberg
Minas Gerais -1.933-

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Código


A alma em código e o peito em barras - de ferro.
Berro teu nome e me debato contra limites de seda,
de cetim,
bom senso,
coerência, conseqüências e desfaleço nua
depois de rebentar minha própria pele
e estilhaçar minha própria medida.
Sou um eterno reerguer de torres,
um eterno reconstruir de pontes
e teu ofício é ser meu céu e meu horizonte.

Escrito por Ticcia às 08:44 de 14.06.2004

terça-feira, 1 de setembro de 2009