sábado, 20 de fevereiro de 2010

Porque hoje é sábado




















Leio tuas coisas perdidas,
aquilo que foi por ti e eu não estava,
uma dor da tua vida que não doeu junto,
uma tristeza do tempo que passou
entre mim e ti sem mãos dadas,
cores que não se estancam
e que tenho medo de não pintem parte alguma,
um vento que posso não mais saber
de que jeito mexeu o teu cabelo,
uma felicidade que não entendo que pudesse ser tua
sem que tivesse sido também minha.
Leio tuas coisas perdidas, resquícios, indícios, pegadas,
entristeço por não ter estado desde sempre, sempre,
desde antes, de não ter visto, vivido, compartido, subentendido,
de não saber o que podem ser.
Quase esqueço que precisávamos perder tantas coisas,
minhas e tuas, para encontrarmos as nossas.

Escrito por Ticcia às 06:33 de 05.06.2006

imagem emprestada,e colorizada
daqui

sábado, 13 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Espaço-tempo















Dá-me tua mão, pássaro e lâmina,
sobre meus olhos escuro e medo,
sobre minha pele rastro d’água,
sobre meus seios ninho e animal faminto.
Dá-me tua mão, entre meus lábios,
vão da gengiva, fio dos dentes saliva e carícia,
entre meus cabelos, emaranhado novelo,
afago e rédea, arreios, seguro sobre meu dorso,
jugo aflito e pleno.
Dá-me tua mão, extremadura da carne, serpente e visgo,
pelas frestas, ao fundo, lava quente da terra,
em sobrevôo leve, pela mansidão os cimos mais frios.
Dá-me tua mão, ao redor do pescoço, na medida da cintura,
um pouco acima dos joelhos, dedos em busca de um perfume perdido,
temperatura improvável.
Dá-me tua mão, sossego e resgate, lança e laço,
tua mão de morte, de parto, de flagelo, de encanto,
dá-me a tua mão de flor e canela,
de gosto amargo e encontro, desespero e descanso.

Escrito por Ticcia às 10:22 de 05.10.2007